DAEM: tudo sobre o distúrbio do envelhecimento masculino

homem na praia olhando para a foto para simbolizar o daem

O declínio da função hormonal dos testículos é parte do processo normal de envelhecimento masculino. Estima-se que os níveis de testosterona em homens com mais de 40 anos diminuam a uma taxa de 1% ao ano. 

O diagnóstico do distúrbio androgênico associado ao envelhecimento masculino (DAEM), ou síndrome de deficiência de testosterona (SDT) – chamada erroneamente de andropausa – requer a presença de sinais e sintomas característicos em combinação com níveis baixos de testosterona. 

O início deste distúrbio é insidioso e sua progressão é, normalmente, lenta. Os sinais e sintomas de DAEM podem ser categorizados como sexuais e não sexuais e são: 

  • Perda de libido
  • Disfunção erétil
  • Ereções matinais menos frequentes e de menor qualidade
  • Aumento da gordura no abdômen
  • Sarcopenia (perda de massa e/ou força muscular)
  • Osteoporose
  • Pensamentos depressivos
  • Fadiga mais fácil
  • Diminuição dos pelos corporais
  • Diminuição da sensação de vitalidade ou de bem-estar

Diagnóstico Laboratorial do DAEM

Homens com quadro clínico compatível com DAEM necessitam de dosagem de testosterona total para confirmação do diagnóstico. 

Não há consenso sobre o nível exato de testosterona que defina o DAEM. Entretanto, a maioria dos laboratórios estabelece como limite inferior da normalidade para homens adultos jovens saudáveis valores de testosterona um total de 232-346 ng/dL (8-12 nmol/L). 

A faixa de normalidade para os níveis de testosterona é estabelecida utilizando-se amostras de sangue colhidas pela manhã (idealmente entre 7-11h). É importante confirmar as baixas concentrações de testosterona.

O método de escolha para o diagnóstico laboratorial de DAEM é a dosagem da testosterona total pela técnica de radioimunoensaio em duas amostras distintas, colhidas no período matinal. 

Quando houver dúvida no diagnóstico laboratorial de hipogonadismo pela dosagem da testosterona total recomenda-se utilizar a medida da testosterona livre calculada a partir das dosagens dos valores da globulina carreadora de hormônios sexuais (SHBG) e da albumina.

Conheça as terapias de reposição da testosterona

A terapia de reposição de testosterona (TRT) é o tratamento apropriado para pacientes com DAEM clinicamente significante, após a discussão das vantagens e dos possíveis eventos adversos. 

Os pacientes candidatos à terapia devem entender que o tratamento requer monitoramento médico e acompanhamento periódico.

A forma ideal de reposição deve contemplar características de segurança, conveniência, liberação adequada da substância com princípio ativo, flexibilidade de doses e eficácia.

As formas de TRT diferem em vários aspectos, que incluem perfil de segurança, via de administração, dosagem e intervalo de uso. 

O objetivo da TRT é a melhora dos sintomas através do restabelecimento dos níveis séricos fisiológicos e o tratamento pode ser dividido em: 

a) Terapias de reposição exógena; 

b) Terapias que estimulam a produção endógena.

A TRT pode ser feita através das vias oral, transdérmica, subcutânea ou intramuscular.

Todas as preparações comercialmente disponíveis, com exceção dos derivados 17 alfa-alquilados, são eficazes e seguras.

Terapias orais

O undecanoato de testosterona, que é absorvido pelo sistema linfático a partir do intestino e metabolizado em testosterona, é uma opção para a reposição oral. 

Sua utilização é muito limitada devido à necessidade de várias tomadas diárias e à alta variabilidade de absorção. Deve ser usado após as refeições por causa de sua lipossolubilidade. 

Praticamente não apresenta efeitos colaterais, e o risco de policitemia (excesso de produção de glóbulos vermelhos, gerando risco de trombose) é menor, quando comparado com outras formas de administração. 

As formas alquiladas de uso oral (metiltestosterona e fluoximesterona) revelaram índices inaceitáveis de hepatotoxicidade, inclusive com a indução de neoplasias hepáticas, por isso foram proscritas das opções terapêuticas de DAEM.

Terapias transdérmicas

As formas transdérmicas de TRT – gel e adesivos – são as que mais se assemelham à fisiologia masculina, não produzindo níveis sub nem suprafisiológicos. 

Trata-se de uma alternativa segura e bem tolerada pelos pacientes. A elevação da testosterona se dá em um curto espaço de tempo e a reaplicação diária mantém níveis séricos consistentes. 

A testosterona, na forma de gel hidroalcoólico a 1%, deve ser aplicada na pele limpa e seca dos ombros, braços ou abdômen, liberando o hormônio continuamente por 24 horas. 

A forma de gel tem um excelente perfil de segurança, assim como eficácia, permitindo a obtenção de níveis séricos normais de testosterona. 

Recomenda-se que o paciente lave as mãos após a aplicação, evitando o contato direto com outras pessoas, pois existe o risco de transferência do medicamento. 

Também é importante aguardar de cinco a seis horas após a aplicação para tomar banho ou nadar. Sugere-se o início do tratamento com 5g de gel de testosterona a 1% aplicado uma vez ao dia. 

Entretanto, deve-se ressaltar que há um índice de falha terapêutica (ou por uso inadequado, má adesão ao tratamento ou até mesmo por dificuldade de absorção) entre 20 a 30% dos casos.

Terapias injetáveis

Essas formas de reposição hormonal incluem o uso intramuscular e os implantes. As formulações intramusculares de testosterona podem ser de curta ação (cipionato, enantato, propionato e associação de ésteres de testosterona) ou de longa ação (undecilato). As de curta ação devem ser administradas entre duas e quatro semanas, em dosagens que variam de 50 mg a 250 mg. 

Têm a desvantagem de produzir níveis supra e subfisiológicos da testosterona sérica, com todos os efeitos colaterais que essas reações causam (por exemplo, irritabilidade, acne, oleosidade). 

A grande variação das concentrações séricas de testosterona pode ocasionar efeitos secundários, entre eles a policitemia e a ginecomastia (crescimento exacerbado das mamas).

A formulação de longa duração, que é o undecilato de testosterona, está disponível em ampolas de 1000 mg, em 4 ml de solução oleosa. Recomenda-se o intervalo de seis semanas entre a primeira e a segunda injeção e, após, de 10-14 semanas entre as aplicações. 

Tem a vantagem de não apresentar níveis séricos supra nem subfisiológicos após sua administração. A TRT com essa forma de tratamento tem ótimos resultados clínicos e laboratoriais, assim como apresenta um importante nível de segurança com o seu uso.

Os implantes subcutâneos vêm se tornando uma das formas mais frequentes de tratamento, devido à sua segurança e praticidade. 

São administrados na forma de cilindros de 200 mg (quatro a seis implantes: 800-1200 mg) a cada 4-6 meses, garantindo a adesão dos pacientes à TRT. Não promovem níveis séricos supra nem subfisiológicos de testosterona. 

Na Clínica Urotelles disponibilizamos esta forma de tratamento para os nossos pacientes.

Terapias de reposição endógena

Trata-se de uma opção para todos os pacientes com DAEM, especialmente aqueles que desejam preservar a fertilidade, uma vez que a testosterona exógena pode ter efeito deletério na espermatogênese. 

Poucos estudos avaliaram os efeitos da gonadotrofina coriônica humana em homens com DAEM, e os resultados terapêuticos são inconsistentes.

O citrato de clomifeno é a droga mais comumente utilizada para estimular a produção endógena de testosterona. Este grupo de medicamentos (clomifeno e enclomifeno) tem sido usado para tratar infertilidade masculina e DAEM. 

O citrato de clomifeno é empregado em doses de 25 mg a 50 mg por dia, estimulando a função hipofisária e testicular, elevando os níveis séricos do hormônio, melhorando a relação testosterona/estradiol. 

Entretanto, os trabalhos encontrados na literatura têm baixo nível de evidência – há necessidade de estudos controlados e com maior casuística.

Acompanhamento

A avaliação dos pacientes em TRT deve ser trimestral após o início do tratamento e, depois, a cada 6-12 meses, com análise dos níveis séricos de testosterona total, melhora clínica, antígeno prostático específico e toque retal, assim como o monitoramento das modificações do hematócrito. 

Os pacientes que apresentarem um hematócrito maior do que 54% deverão diminuir a dosagem terapêutica, trocar a forma de tratamento ou suspendê-la.

Para maiores informações sobre esse e outros assuntos, acesse nosso blog e entre em contato com o Dr. João Pedro Bueno Telles, urologista que realiza atendimento em Porto Alegre. 

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