Um número cada vez maior de homens com câncer de próstata de baixo risco (de agressividade muito baixa) estão se beneficiando da vigilância ativa – uma abordagem terapêutica que ajuda a evitar ou postergar os tratamentos mais agressivos.
Esta é a conclusão de um recente estudo publicado no Journal of Urology (provavelmente a principal publicação científica na especialidade de urologia). O co-autor deste estudo foi o Dr. Antonio Finelli, chefe da Divisão de Urologia no Hospital Princess Margaret Cancer Center.
O conceito de vigilância ativa foi desenvolvido nos anos 90 por pesquisadores da Universidade Johns Hopkins e da Universidade de Toronto.
De forma abrangente, a intenção era encontrar uma forma de se contrapor aos problemas que podem ocorrer com o tratamento do câncer de próstata (principalmente impotência sexual e incontinência urinária) naquele grupo de pacientes onde a doença mostrava-se, no momento inicial, sem evidências de agressividade.
Trata-se de um estudo populacional, de caráter observacional. Os dados são referentes a homens que tiveram diagnóstico de câncer de próstata entre janeiro de 2008 e dezembro de 2014, residentes em Ontário – Canadá. Todos receberam grau 1 de ISUP (menor grau de agressividade no câncer de próstata) no momento do diagnóstico.
Os pacientes foram acompanhados do momento do diagnóstico da doença até que acontecesse um dos seguintes desfechos: início do tratamento definitivo, perda de seguimento, morte, progressão para doença metastática ou fechamento do estudo – o que tivesse ocorrido antes.
A descontinuidade da vigilância ativa foi definida como receber qualquer forma de intervenção definitiva (cirurgia ou radioterapia) ou tratamento com terapia de deprivação androgênica.
Foram utilizados dados de 16.852 pacientes. 8.541 (51%) foram manejados por vigilância ativa; 6.042 (36%) receberam tratamento no momento do diagnóstico; e 2.268 (13%) se submeteram a apenas acompanhamento (onde o paciente, diferente da vigilância ativa, não realiza biópsias de confirmação).
Embora os protocolos de vigilância ativa apareçam em várias diretrizes de tratamento para câncer de próstata, existem pequenas diferenças entre eles.
Mas as características básicas são: uma vez que o paciente confirmou que é portador de câncer de próstata de baixo risco e aceita a abordagem de vigilância ativa, ele precisa realizar PSA a cada 4-6 meses por ano (associado a toque retal) e repetir a biópsia em intervalos indicados após o diagnóstico (usualmente a cada ano).
Algumas instituições já estão estudando substituir as biópsias de seguimento por acompanhamento com Ressonância Nuclear Magnética (RNM) da próstata.
Os resultados do estudo mostraram que ocorreu um aumento substancial no uso da vigilância ativa, passando de 38% em 2008 para 69% em 2014. Isto pode indicar que tanto os urologistas quanto os pacientes estão desenvolvendo maior conforto e confiança com este conceito.
“Você preserva a qualidade de vida e, se tudo ocorrer de acordo com o planejado, você não perde a oportunidade de cura – se for necessário. Caso a doença se mostre mais agressiva em exames de seguimento, nós iremos intervir”, afirmou o Dr. Antonio Finelli.
Aos 48 meses de seguimento, cerca de 51% dos pacientes que haviam optado por vigilância ativa já descontinuaram desta alternativa. A probabilidade acumulada de permanecer na vigilância ativa e estarem livres de tratamento é de respectivamente com 1,2,3,4 e 5 anos: 85.2%, 62.9%, 58%, 55.3% e 52.4%.
Vários fatores foram associados com a transição para o grupo de tratamento definitivo. Alguns que podemos citar: idade precoce ao diagnóstico, anos convivendo com o diagnóstico, número/intensidade elevada de outras doenças associadas, tratamento por médico e instituições renomadas e características câncer-específicas adversas (por exemplo, nível de PSA elevado, número elevado de fragmentos positivos, elevado percentual do fragmento envolvido pelo câncer).
Antonio Finelli declarou: “A comunicação clara com o paciente sobre o que ele pode esperar da vigilância ativa é vital para o seu sucesso. Os pacientes necessitam ter expectativas realistas para depois não se desapontarem quando, em 5 ou 6 anos após, precisarem de intervenção. Eles sempre terão a escolha”.
Para maiores informações sobre o assunto, acesse nosso blog e entre em contato com o Dr. João Pedro Bueno Telles, urologista que realiza atendimento em Porto Alegre.
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