Um dramático aumento na incidência do carcinoma de pênis in situ (CPIS), uma doença pré-maligna que pode se transformar em câncer de pênis passados alguns anos, está sendo identificado na Inglaterra e em outros países europeus.
A incidência do carcinoma de pênis in situ na Inglaterra subiu de 19 novos casos no ano de 1979 para 193 casos em 2011, último ano em que os dados foram avaliados. Isto significa um aumento de 915%, disseram os pesquisadores que apresentaram seu trabalho no congresso da European Association of Urology (EAU), realizado em Londres.
“Estes dados, mostrando esse aumento substancial na incidência, levanta uma questão: estamos melhorando a notificação desses casos ou há, efetivamente, um maior número de homens com a doença?” comentou o principal pesquisador, Dr. Simon Rodney, fellow em oncologia urológica na University College London.
A maior parte dos pacientes apresenta-se com um rash cutâneo na região peniana. A partir desse achado, faz-se uma biópsia e a doença é diagnosticada. Atualmente há maior educação sobre esse assunto, bem como há menor inibição entre os homens em procurar um profissional médico quando aparecem problemas genitais. Entretanto, essas mudanças comportamentais não conseguem explicar, com segurança, esse aumento importante no diagnóstico.
Além disso, aumentos semelhantes do carcinoma de pênis in situ foram identificados – nesse período – na Dinamarca, na Holanda e na América do Norte, o que sugere que esse aumento é real.
O principal agente nessa doença é o papiloma vírus humano (HPV). As taxas de outras condições igualmente associadas ao HPV aumentaram em anos recentes, incluindo verrugas genitais e câncer de ânus, cabeça e pescoço. Em particular, vêm ocorrendo um grande aumento no número dos casos de câncer de garganta – associado ao HPV – em homens. Esse tipo de tumor está relacionado com sexo oral.
“Geralmente o risco de infecção por HPV aumenta com um maior número de parceiros sexuais”, comentou o Dr. Rodney, e a partir de 1960 – com a revolução sexual – houve uma tendência das pessoas aumentarem o número de seus parceiros.
De fato, Dr. Rodney e colegas escreveram recentemente que “a infecção por papiloma vírus humano (HPV) pode ser considerada uma pandemia, causando tanto doenças malignas como doenças benignas, ao redor do mundo. É a doença sexualmente transmissível mais frequentemente adquirida, com mais de 6 milhões de novos casos anuais nos Estados Unidos da América.”
Mas existe um outro fator que é específico para o carcinoma de pênis in situ – a circuncisão (tecnicamente chamada de postectomia), que protege contra a infecção por HPV e contra o câncer de pênis. As taxas de postectomia realizadas logo após o nascimento caíram substancialmente, nas últimas décadas, no Reino Unido – de aproximadamente 49% em 1949 para algo em torno de 3,8% (em pacientes com até 15 anos de idade no momento da circuncisão) em 2000.
A taxa em queda da postectomia, associado ao aumento da infecção por HPV, poderiam ter um efeito sinérgico e explicar essa considerável elevação nos índices de carcinoma de pênis in situ, sugere o Dr. Rodney.
O carcinoma de pênis in situ é um precursor do câncer de pênis e, para fins de comparação, é muitas vezes mais provável essa conversão (de uma doença inicial para uma neoplasia agressiva, potencialmente letal) na doença do pênis do que a transformação do carcinoma ductal in situ de mama em câncer de mama.
Para finalizar, também houve um aumento nas taxas do câncer de pênis. Estudo publicado em 2013 mostrou que 9.690 britânicos foram diagnosticados com a doença entre os anos de 1979 e 2009. Mas houve um aumento de 21% na incidência do câncer de pênis entre 1970 e a década passada. As explicações mais prováveis: alterações nas práticas sexuais (número de parceiros, início mais precoce das atividades sexuais, baixo índice de uso de preservativos, homossexualismo), maior exposição a variantes do papiloma vírus humano que apresentam maior potencial oncogênico e queda no número de postectomias realizadas. Há uma necessidade de se buscar melhores políticas públicas de educação e prevenção, afirmaram os autores.